domingo, 17 de novembro de 2013

O Velho Casarão

Era madrugada quando saí do teatro e fechei as portas. A praça estava em silêncio e só se ouvia o respirar ocasional das árvores ao vento. Apressei-me para o carro, o único estacionado nas redondezas.

Aquela era a cidade velha, muitas construções eram seculares. Algumas, infelizmente, esquecidas e invisíveis aos olhos modernos. Não todas, porém.

Ao lado do teatro, há um casarão abandonado. Está caindo aos pedaços desde que me dou por gente, o que significa décadas. Ninguém jamais foi visto entrando ou saindo; nem os mendigos atravessam seus portões enferrujados, preferindo a cobertura das árvores. Até mesmo os cães vira-latas evitam o terreno. Somente os gatos se aventuram sobre as folhas secas do jardim.

Meu carro me esperava parado em frente ao casarão. Caminhei rápido até ele.

Quando se trabalha em um lugar quase tão antigo quanto a própria cidade, como é o caso do teatro, é difícil ignorar histórias de fenômenos inexplicáveis devidamente passadas de geração a geração. Com o tempo, todo mundo presencia algo entre aquelas paredes, que guardam mais memórias do que famílias inteiras. Algo que preferem não mencionar. Algo que desmerecem com um sorriso de desdém quando um amigo junta coragem para compartilhar.

Ao chegar ao carro, ouvi um som próximo. Não havia uma alma viva em todo o largo. Pensei ter sido um miado, mas não conseguia achar um gato. Desativei o alarme do carro e ia entrar quando voltei a ouvir o miado. Agucei os ouvidos e descobri que não era um gato.

Era um som de violino. Vinha do casarão às escuras.

Os janelões tinham cortinas que impediam a visão do interior. Tudo estava fechado como sempre estivera. A luz do poste iluminava o jardim e só. Definitivamente, eu ouvia um violino a tocar.

Meus anos de teatro me disseram que aquilo não era uma gravação, a dinâmica no som era de alguém tocando o instrumento naquele momento. Havia alguém tocando violino no casarão. Eu sei o que ouvi. E sei também que aquela melodia era tão bela quanto assustadora. Arrepiei da cabeça aos pés… e o mais estranho aconteceu.

Não pude conter meus pés de me levarem até as grades do muro do casarão. A música era hipnótica. Nunca ouvi algo parecido. Ficava mais clara quanto mais eu a escutava, como se ressoasse em toda a praça. Como se me dominasse por completo. Como se…

Então parou de repente e tive a impressão de ter acordado. Eu continuava de pé próximo ao muro e a praça, vazia e silenciosa.

Foi quando notei as luzes dentro do casarão.

Domando o medo que corria nas minhas veias e gritava para que eu voltasse para o carro e fosse embora, puxei meu celular do bolso para registrar e comprovar aos céticos essa história que com certeza contaria no dia seguinte. Por cima da grade, enquadrei a entrada do casarão e me esforcei para não tremer.

Pela tela do celular, vi que a porta da frente começou a se abrir lentamente. Congelei. Quando ela parou, meus olhos arregalados viram uma silhueta alta recortada contra a luz. Ainda tirei uma foto antes de correr para o carro e arrancar dali para casa o mais rápido possível.

Mal dormi nessa noite e só tive coragem de olhar a foto no celular no dia seguinte, na segurança do dia. Desde então, parei de estacionar próximo ao casarão.

Não sei por que não tenho vontade de contar aos colegas do teatro sobre esse ocorrido. Quanto à foto… Bem, nunca mais olhei para ela, mas vai continuar guardada no meu celular.

E nela não aparece silhueta alguma.






(uma foto e um texto)

Da dura poesia concreta de tuas esquinas



“E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”


Não estava acostumado a ver pessoas revirando sacos e latas de lixo. De onde elas vieram? Que histórias elas poderiam me contar? Nas grandes avenidas, nas ruas famosas e também nas vias de pouco uso, estão sempre ali a procurar materiais bons de vender (como o alumínio) ou que ainda estejam bons de comer.

Apesar da proibição, os novos lançamentos imobiliários da cidade empregam dezenas de homens-seta (que muitas vezes são mulheres). Em qualquer dia, ao descer a rua Topázio, aqui no bairro, você pode contar meia dúzia desses trabalhadores enfrentando o Sol ou o frio para indicar aos motoristas onde ficarão os novos condomínios de luxo. E lá no fundo do pequeno vale entre a estação Ana Rosa e a Paraíso, casas mal-acabadas se escondem entre as fileiras de prédios residenciais cada vez mais valorizados.

Imagino que numa guerra nós aprendemos a enfraquecer a empatia, para não nos envolvermos demais com os destinos tristes da maioria dos que são afetados por ela. Assim nós podemos economizar forças para cuidar de seguir o próprio destino, realizar as tarefas pelas quais, por algum motivo, nos tornamos responsáveis. Mesmo assim, tem momentos em que somos forçados, ainda que por detalhes delicados, ao exercício da alteridade – tão necessário hoje, e sempre.

Mas o individualismo não nasce só desse mecanismo de defesa. Faz parte de um conjunto de idéias que ativamente busca impor um projeto criado por poucos. “Da força da grana que ergue e destrói coisas belas”. Em toda cidade brasileira temos que lidar com isso, mas a escala paulistana multiplica o peso. E o ritmo da competição – por tudo – pode seqüestrar as faculdades mentais de quem chega com a defesa baixa.

Nem todos queremos entender os sentimentos que uma cidade nos traz. O que mais se vê são os bares, cinemas, parques e restaurantes lotados de pessoas que só querem relaxar, preparar corpo e mente pra mais outra semana.

A indiferença, que 
parece ter causa e efeitos estruturais (além de estruturantes) não reina tão soberana quanto se diz. Às vezes o ambiente e a ocasião fazem-nos mais receptivos à possibilidade de encontrar apoio nas relações humanas, sejam elas como forem.

Um velhinho no parque, que passou o dia lá com seus dois cachorros, puxa assunto com qualquer pessoa que sentar ao seu lado ou acariciar os animais. Moças do interior ou de outros estados, quando estão num bar animado, oferecem simpatia aos estranhos que puxam assunto. A funcionária de um museu dá mostra da maior solicitude imaginável, como se isso fosse algo corriqueiro. Um pedestre oferece água a um trabalhador de rua. Um morador de rua oferece arte em troca de moedas e algum reconhecimento.

Nessa variedade, nessa dinâmica de mediações, quem eu posso ser? Para dominar todas as condições (algumas, decisivas, eu herdei) de definir meus papéis, é preciso, antes, aprender os truques mínimos necessários para viver sem se entregar ao controle do caos. Se encaixar, sem ser só mais uma peça. E prosperar, sem agir em detrimento da vida na cidade. 

Que um dos cidadãos paulistanos que sabem viver assim cruze o meu caminho e me presenteie com bons conselhos.


(uma foto e um texto)

Bruce's Parade



“Bruce, where are you?”

The voice echoed farther and farther away from the boy. In one minute he was waddling around chasing birds, and in the other his parents seemed to be beyond distinction. He looked around, half crying for himself, calling their names through uneasy sobs.

One of the birds tweeted. It was chubby and green, waving to Bruce as if he wanted him to tag along. Bruce was uncertain, but lacking any other guidance through that increasingly menacing environment, he chose to follow the little animal more into the woods.

But as soon as he crossed the many branches and leaves and trunks, he noticed that everything seemed to gleam a golden aura all around him. The lines between things began to blur, to wander away. He felt the trees under his fingers and something inside them vibrated with unusual sounds. He saw that the bird was gone, but he did not feel alone.

There was something else for him there.

As he peeked through an unseemingly window at the oaks and maples, a world of madness rose itself before him. He could not imagine all those things ever existed in the real world – because obviously he was not awake anymore. Something must have happened. Maybe he fell and hit his head? So why  does it not hurt? The cool breeze of a summer day brought to his ears the nonchalant laugh of strange people, followed by the pungent smell of cakes and tea. He felt hungry all of a sudden and made his way to that incredible existence.

However, his right foot got caught in an angry root, laying there waiting for the next careless explorer to trip on it. Somehow Bruce could not untangle himself from it, while watched all the imaginations that came from the other side.

A parade of fantastic beings, flying in the wings of horses and giant eagles, children in green smoking fragrant herbs, trolls roaming along witches, elves riding motorcycles and smiling to the sight of a man with dark eyes and skin white as milk; a red-haired traveler played a triple-necked guitar to the cheers of a group of people wearing metallic cylinders in their belts. He saw and heard the joy of a monk boy, floating aimlessly around the crowd in his windy ball, the laugh of four brothers teasing a playful faun; young sons and daughters of gods made the land tremble or water fall from the sky with a single word of command, just to entertain friends in a blue box. Ships sailed the air, starships, seaships, airships holding the flag of foreign lands and outside symbols from somewhere far beyond the last of fantasies. One young cyan-haired villager held hands with a perky red pirate, while beside him a man with no name talked with veiled care to a kid that looked much like him, both almost lost in untold complicity.

Then, as if noticing Bruce for the first time, that kid looked right into his eyes. And smiled.

“Go on, then…there are worlds other than these”, he said.

And then Bruce spiraled away, dazed and confused in the stream of time and space, trying to hang on to that scene, to those unknown people that felt awkwardly familiar. He reached and tried and grabbed thin air and fell into emptiness.

Until he was laying on the dirt.

His parents looked at him with visible concern. His mother was on the blink of tears.
“Bruce, where were you? Are you okay?”, she asked, searching for wounds.
Bruce just nodded. His father was both puzzled and slightly irritated.

“I’m fine, mom. I’m fine”, said Bruce.


(uma foto e um texto)

sábado, 9 de novembro de 2013

Mothership

The sky was dark and starless. Under it the sea shimmered faintly with the lights from aboard. It could be seen from afar, navigating through uncharted waters and exploring the deepest corners of the planet. It bounced little with the flow of the sea, but its balance was not familiar to those who had never met such a rare sight.

Khelabadir it was called, and since long and past years it had been known as the Mothership. Enormous, imponent, majestic. One of the last hopes of mankind after the Great Drown, holding a few of the remnants of civilization upon its back to escape obliteration. It was nothing more than a seed adrift, waiting for better times to come.

And it was alive.

The Mothership was a domesticated colossi, gigantic being who had a whole city built upon him, and as amphibious as it was, swam away from savagery and destruction as soon as they came. Through a telepathic channel it could communicate with the Navigators, men and women prepared to motion the huge intellect and ask for its cooperation. It was mutual and agreed.

The Navigators existed since humans learned to befriend colossi. They bonded in ways that were not possible among people themselves. Their minds worked towards a common ground, step by step, and so the colossi moved and did what was asked of it.  Their psychodance was beautiful and rewarding.


On that day, on that very day, the sky was dark and starless. The Mothership could be seen from afar, far into the horizon. Unscathed so far, and yet unknowing to the tragedy the future withheld in its tepid waves.

(a story on a ship. Past, present or future.)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tigres Asiáticos

[...] Mas grande parte do tempo foi usada para relembrar a história do remador de Singapura. Uma tarde, quando o Sol já estava baixando, avistamos um barco minúsculo à distância. Isso a mais de duzentos quilômetros da terra firme. Pensamos que poderiam ser pescadores à deriva. Apesar de não terem emitido qualquer sinal, paramos. O tempo estava bom e o capitão devia estar de muito bom humor naquele dia.

Na barca enviada para o resgate, fomos três. Eu, um australiano e um chinês de Hong Kong. Acho que o critério foi a diversidade, porque afinal não sabíamos ainda de onde eram os ocupantes do barco. Foi bem desagradável sair do balanço quase inexistente do nosso grande navio pra agitação da barquinha, que além disso estava meio suja. Em quinze minutos estávamos ao lado do pequeno barco, que descobrimos ser a remo, de onde acenava seu único ocupante. Um oriental que aparentava ter, no máximo, quarenta anos. Mas com eles é difícil saber.

O chinês tentou primeiro o mandarim, depois o cantonês. Nada. Finalmente tentamos o inglês, e, pro nosso alívio, ele nos entendeu e conseguimos um diálogo básico, sem muitas palavras perdidas. Após se identificar e dizer a sua origem, o remador agradeceu e recusou a nossa oferta de ajuda. Ele havia partido sozinho, nove dias antes, com o objetivo de chegar até Bali, na Indonésia. Ficamos impressionados com a audácia daquele senhor, nem tanto pela distância, mas sim porque o Mar de Java é uma área de tráfego intenso, com alguns conflitos e muitos bancos de corais difíceis de contornar sem auxílio. Além de tudo, ele não carregava nem rádio e nem GPS.

Convencidos de que o homem era senil, tentamos convencê-lo a desistir e voltar conosco para o nosso navio. Muito simpático, ele seguiu recusando ajuda e acrescentou que aquela era a "missão da vida dele". Disse que já havia se desfeito de tudo o que acumulara em Singapura. Nessa hora eu imaginei ele ganhando a vida por lá, primeiro humildemente, e depois com cada vez mais conforto, em sincronia com a ascensão dos Tigres Asiáticos. Ele contou que, com as economias, comprou o barco onde estava (um belo barco de madeira, pintado de branco e verde, que devia ter pouco menos de vinte pés), mantimentos para um mês, e ainda tinha um pouco de dinheiro para escolher um rumo quando chegasse.

Enquanto ele nos dizia essas coisas, já um tanto apressado, de olho no pôr-do-sol que começava, eu lembrei de você. Será que esse senhor, mesmo no outro lado do mundo, leu aquele livro do Amyr Klink que você me emprestou? Não dava mais tempo de perguntar, porque logo já estávamos nos afastando dele. O ronco do motor impediria a minha pergunta mesmo se eu gritasse.

Do convés observamos o barquinho sumir na escuridão. Ele tinha três pares de luzes. Verdes, vermelhas e azuis. Por causa delas eu comecei a imaginar o remador como um homem muito feliz, convicto do que busca na vida, mesmo que isso acabe o matando. Talvez ele tivesse uma história triste, ou quem sabe um desejo de morte. Ele se preocupou bem mais com a estética do que com a própria segurança nessa missão à qual ele se atribuiu. Vez por outra, desde aquele dia, eu penso nisso. Será que ele chegou?

Por favor, me diga se faz sentido pra você.


(a story on a ship)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

The Last Destroyer

“I remember when the captain gave the order. All other ships were wrecked, all aircraft gone. Theirs as well. It was one warship against the other, the last of each fleet. We were the only thing between the enemy and their goal.”

“They wanted to get to Port Said, didn’t they, grandpa?”

“Yes, my darling girl, they did. And you happen to know why?”

“Aye, sir! ‘Cause they were going to the canal. The Suez Canal.”

“The New Suez Canal, indeed. The enemy had just conquered the lands of the canal. If that destroyer ever got to cross it, this would mean the end of the war… and what an awful end it would be. The enemy would win.”

“Our ship was a destroyer too, wasn’t it, grandpa?”

“Correct. Their destroyer was an advanced class, a bit faster. They had run out of ship ammo. Us too. They were heading straight to the canal. And then, as I was saying, the captain gave the order.”

“Don’t stop, grandpa! That’s the best part! Don’t tease me!”

“Alright, alright! The order was crystal clear: brace for impact, full speed ahead. The captain was going to use his own ship as missile to sink the enemy. The navigators projected the best trajectory to hit them so that they could not avoid us. I was on the deck.”

“But how could the captain be so sure it’d hit the ship and that it’d sink’em?”

“He was not. Neither the navigators, it was only projection. The enemy could pull out a maneuver that would save them. If they ever got passed us, we could not reach them anymore for they were faster. But, you see, that was precisely the factor that would turn the tide on our favor.”

“…I don’t see…”

“The enemy’s destroyer was an advanced class. The captain knew their hull was thinner than ours. They were fragile to our heavy, old ship. We would crush them if we ever got to hit them.”

“And we did!”

“Yes, my darling, we did. They tried to turn away, but they took too long to do so. I think they did not believe we would throw ourselves at them. I mean, they did not believe in time. Yet, do not think it was a pretty sight. We hit them on full speed, and they were fast as hell too. It was a violent explosion, I can tell you that. A violent end to a violent battle. Few survived.

“And it was the end of the war!”

“Not quite. More battles were fought, mainly on land. But the Battle of the Mediterranean was the turning of the tide. There is no doubt about that.”

“Awesome! But, grandpa… you said you’re on the deck. How did you survive the explosion when so many didn’t? Did you go inside at the last seconds?”

“My sweetie, what I did is the reason we are talking today on this beach enjoying the calm sea, chatting under the sun. You and your father exist because of that. And I never regretted my decision.”

“You never told me, grandpa! What did you do when the captain gave the order?”

“I jumped off the ship. While we were still very slow, I mean, and I was pretty lucky to survive that nevertheless. Sorry to disappoint you, I am no war hero.”

“It must’ve taken you a great deal of courage to jump a ship like that, grandpa. And the captain didn’t need you to hit the other destroyer at that point either. So it’s OK, you’re still a hero to me.”

“That’s my girl. Now, people are giving weird looks at my talking head coming out of the sand, you can dig me out of here already.”



(A story on a ship. Past, present or future.)

domingo, 20 de outubro de 2013

Os sonhos de Briar Rose

Havia, muito tempo atrás, uma família que passava através das gerações a crença de que era uma maldição nascer no décimo terceiro mês dos anos que tinham treze meses. Mas os pais da pequena Briar Rose não conseguiram evitar que ela viesse ao mundo em um mês como aquele. 

Com muito medo de que algo nefasto acontecesse à sua filha, era comum que eles a levassem com frequência para consultas com astrólogos, quiromantes e cartomantes. Sem conseguir respostas claras sobre que ameaças pairavam sobre o destino da criança, procederam com extrema cautela nos cuidados com a criação da menina.

Uma criança belíssima, alegre, que sorria e brincava com todos que a viam nas manhãs das cerimônias religiosas da cidade. Eram tempos de prosperidade na região, fruto do estabelecimento de uma nova rota comercial – conquistada com muito sangue em terras bárbaras. Enquanto novas residências, lojas, estalagens, oficinas e praças somavam-se à urbe, Briar Rose levava uma infância feliz.

Raras vezes saía da casa, que era um palacete de estilo antiquado construído no centro do orgulho da família: um enorme jardim, que parecia ser verdejante mesmo nos invernos mais rigorosos, como se a Natureza poupasse àquele rincão da cidade a sorte garantida para toda a vizinhança. Seu tempo era dividido entre as lições da tutora (que foi contratada para administrar uma rigorosa educação em domicílio), as refeições de cada período e as brincadeiras vespertinas. Era comum a companhia da filha de uma das criadas ou de algumas poucas vizinhas permitidas pelos seus pais.

A leveza dos dias quase a fez esquecer. Mas nas noites de lua nova, quando a escuridão tentava afogar as plantas da propriedade e as lamparinas dos aposentos faziam esforço redobrado, uma troca de olhares apreensivos entre a mãe e o pai era suficiente para que a menina, que era cada vez mais uma moça, sentisse intensa fragilidade à mercê do próprio futuro.

Certa vez foi despertada pelo canto dos sabiás e, ao se levantar, viu que os raios de sol revelavam diversas pétalas de rosa sobre seu leito. Um olhar mais cuidadoso, auxiliado pelo tato, corrigiu a impressão inicial. Era sangue, e tinha mais nas roupas de Briar Rose, que, assustada, correu para o quarto dos pais em busca de ajuda. 

Nas semanas seguintes não houve sossego: novas visitas às autoridades das artes divinatórias na região foram realizadas. Os pais de dela temiam que a maldição viesse bater à porta daquela nova fase da vida em que a menina havia entrado. Não, não era mais uma menina. Agora era uma mulher e o tempo das brincadeiras teria que ceder ao tempo de garantir a continuidade da família. Filha única, dela dependeria a manutenção da linhagem ilustre à qual os três pertenciam.

Sob absoluto sigilo, viajaram além das montanhas. Desceram caminho tortuoso para o bojo de um vale pouco habitado, onde vivia uma senhora que tinha fama de bruxa. Rose saciou sua curiosidade em relação ao mundo como nunca antes. Espiando entre as cortinas da carruagem, tentava absorver o máximo possível da miríade de cenas que previamente pertenciam somente à esfera da imaginação, que era fertilizada pela literatura e pelos relatos das amigas.

Após acomodarem-se como possível no casebre da bruxa, ela cobriu a cabeça da jovem Briar Rose com um véu negro. Então colocou um punhado de sementes variadas na mão esquerda e uma vela roxa e acesa na mão direita da menina, que sentava em um banco de ébano. Em silêncio, a velha observou a moça. Até que falou:

– A criança não contém maldição. Mas, se não tomarem cuidado, ela pode ser exposta às tantas que rondam pelo mundo. Ela tem, sem dúvida, uma espécie de fraqueza. 

Depois de queimar as sementes num fogareiro, de guardar a vela e o véu, a bruxa fitou o casal por alguns instantes. Baixou os olhos e aconselhou-os de modo críptico:

– Nunca permitam que uma agulha traiçoeira se aloje na menina através da pele e dos tratos superficiais. Se isso acontecer, será a ruína da família. E a sua filha dormirá, porém sem descanso, até ser beijada por um príncipe. Agora vão. É só o que eu tenho a dizer.

Quando caía a noite, chegaram em casa. Logo mandaram as criadas jogarem fora todas as agulhas e objetos semelhantes. No dia seguinte, a casa e os jardins foram vasculhados. Foi decretada a proibição, sob pena de demissão, da entrada de qualquer um daquelas ferramentas banidas. Briar Rose estava proibida de sair dos limites da casa.

O confinamento não representou uma mudança na rotina dela, que fora criada sempre ao alcance imediato do pai e da mãe. Seus momentos de maior liberdade, até então, tinham sido as brincadeiras no jardim em que ela e as outras meninas fingiam serem animais na floresta. Mas agora as visitas tornavam-se cada vez mais escassas, além de restritas ao salão da residência. Era visível o desinteresse das amigas, que também já estavam se tornando mulheres e igualmente imigravam para o tempo das tarefas do lar.

Alguns anos passaram, nos quais ela dedicou-se a aprender a cuidar das plantas. Essa era a única atividade do lar permitida pela mãe, que dizia ser desnecessário realizar qualquer uma das outras, pois seriam sempre exclusivas às serviçais. Desfrutava, então, da maior parte dos dias exercendo a jardinagem ou sentada nos bancos, entretida com algum romance de cavalaria – eles estavam na moda naquele tempo. A exuberância do jardim nunca fora tão grande. Nas primaveras, inúmeros pedidos de visitação eram enviados. Mas bem poucas eram permitidas. 

Corada pela luz do Sol, bem alimentada e com a alma preenchida pelos conteúdos da farta biblioteca da qual dispunha, Briar Rose era uma linda jovem de cabelos castanhos que sorria ao encontrar abelhas trabalhando sobre as flores que ela cultivava. Seus olhos transmitiam a serenidade de quem vive sem ansiedade em relação ao dia seguinte e sem remorso do que acontecera nos anteriores. Na falta de tesouras, podava com delicadeza os galhinhos que não vingavam, usando as mãos com paciência. 

Os pais estavam bastante decididos a encontrar um marido para sua filha. Ele traria mais riqueza para a família e assumiria a tarefa de manter Briar Rose à salvo da maldição. Tanta beleza, somada a um dote considerável, seria mais do que suficiente para atrair um excelente candidato. Nobre, de casa próspera e, quem sabe, com vínculos poderosos. Durante meses o pai e a mãe estudaram, planejaram e combinaram, por correspondência, uma recepção com o objetivo de apresentar Briar Rose à família mais rica possível dentre as que tivessem rapazes ou homens disponíveis para o matrimônio. Guardaram tudo isso em segredo, sem qualquer menção do assunto à donzela, para não importuná-la e para que ela não pudesse atrapalhar os preparativos.

Num belo dia de Outono uma carruagem muito ornamentada adentrou os portões do palacete. Dela apeou os únicos integrantes remanescentes do clã mais rico da península, de estirpe antiga e prestigiada: uma viúva e seu filho único, homem feito que acabara de retornar dos conflitos com os bárbaros. Juntos, possuíam domínio sobre dezenas de moinhos e contavam com a fidelidade – por endividamento – de quase uma dúzia de vassalos. Alguns diziam que era riqueza proveniente da velha ordem, mas que tendia a durar caso fosse bem administrada.

Durante as apresentações formais no salão, a curiosidade de Briar Rose só não era maior do que o seu constrangimento. Ainda muito surpresa com a chegada de uma visita, e ainda mais com o propósito que ela tinha, sentia-se paralisada como as joaninhas nas teias das aranhas do jardim. Com base nos poucos olhares que ousou lançar, achou que seu pretendente era razoavelmente bonito. Tinha um ar de cavaleiro, porque afinal voltara da guerra, mas era bem diverso da idéia que ela fazia de um deles. Os romances não os retratavam com um olhar agitado e uma barba com falhas. Quando seus olhares se cruzaram, ela teve a impressão de estar sendo cobiçada. O que foi, pra ela, um pouco assustador. Não saberia como reagir.

Após o chá, sua mãe pediu que ela fosse mostrar o jardim ao cavalheiro, com essas palavras. Assim, as cabeças das famílias poderiam discutir questões aborrecedoras como o dote, a cerimônia, enfim, os arranjos pré-nupciais e a fina costura dos negócios.

Caminhando pelo passeio em direção ao pomar, Briar Rose se esforçava para transmitir naturalidade ao homem que a seguia. Discorria sobre as mudanças nas folhagens, os pássaros que voltariam na Primavera, o riacho que corria perto da cerca dos fundos. Nomeou todas as flores, apontou quais ervas serviam para fazer tempero ou chá. Ele não parecia impressionado e não fazia comentários. Seu silêncio foi interpretado como originário de uma franca ignorância acerca da botânica, mas o que esperar de alguém tão diferente dela? Com o tempo ele poderia se interessar. Ela continuava exibindo seu conhecimento enquanto criava coragem para perguntar sobre paisagens e costumes estrangeiros com o qual ele certamente deveria ter tido contato.

Sob a copa da maior e mais antiga macieira, Briar Rose deteve-se e, com muito jeito, retirou uma bela maçã. Ofereceu a fruta com a mão esquerda e um sorriso, com o intuito de criar um primeiro laço com aquele senhor taciturno.

Ele aceitou-a com um gesto inesperado. Sua mão agarrou tanto a maçã quanto a mão que a ofertou. Um passo adiante e ele a encarava de perto. A moça tentou se afastar, mas a árvore estava às suas costas e assim, por algum motivo, sua amiga pareceu ser conivente com o abraço descabido no qual o homem tentava prendê-la. Em pânico, debateu-se como pôde. Um nó na garganta a impediu de gritar por ajuda enquanto o veterano a deitava entre as raízes e a vegetação rasteira.

Fora de si, sentindo náuseas e o correr das lágrimas, quase não percebeu a dor que a cortava o ventre. Sentia o peso daquele corpo estranho, o cheiro de maçã e a textura do capim. Via o Sol por entre os galhos e os globos vermelhos, maduros, nascidos entre eles. Não parecia real, aquela dor não era dela, pois não pertencia ao mundo que conhecera. Desfaleceu achando que tudo era um terrível pesadelo.

Nunca contou a ninguém. Ao retornarem à casa, os contratos já haviam sido feitos. Em estado de choque, subiu quieta para seu quarto, onde caiu num sono denso. Tudo acontecera tão rápido... E o tempo pode correr assim? Estava acostumada a um ritmo manso e livre de surpresas. Daquele dia em diante as coisas foram se dando com muita velocidade. 

Casório com poucos convidados, muitos presentes caros e insignificantes. Seus pais mudaram para uma propriedade ainda mais suntuosa, a meio dia de viagem, que foi conseguida na barganha do matrimônio. Deixaram o conselho veemente de que o mais sábio seria manter todo cuidado com Briar Rose, para que ela não saísse de casa, evitando o perigo da maldição, para o bem dela.

Os dias, para a recém-casada, se alternavam com muita fluidez. Eram passados sobre o leito da própria cama, com visitas freqüentes das criadas, que traziam refeições (geralmente desperdiçadas) e ocasionais do marido (em que ele sempre tirava proveito), acostumado a passar semanas percorrendo outras propriedades. 

A bela Briar Rose não acompanhava mais o calendário e as estações. Apenas sonhava em sua cama, quer estivesse acordada ou adormecida.

Afastando a folhagem de uma orelha-de-elefante, avistou, ao longe, uma floração amarelada. Caminhando entre as árvores, com cuidado para não tropeçar em pequenos vasos onde se refugiavam violetas, avançou até reconhecer um ipê amarelo. Sempre quisera uma árvore dessas no seu jardim, mas como fazer pra transplantá-la da floresta para o quintal da sua casa? Enquanto pensava nisso, notou um movimento brusco à sua direita. Troncos estavam mudando de lugar? Correu por um baixio de riacho seco, com medo. Olhando pra trás, percebeu que na verdade eram as patas de uma aranha-marrom, gigantesca, que a perseguia. Escorregou numa pedra lodosa. Queria gritar, mas as cordas vocais não vibravam, como se entrelaçadas.

Quem abriu as janelas? O Sol ofuscava a mobília do quarto, mas era um começo de tarde frio. Após fechar também as cortinas, seu anel dourado escorregou para debaixo da cama. Examinou suas mãos, que estavam guarnecidas por falanges de aparência frágil. Esgueirou-se para baixo do leito, em resgate à jóia. Era uma noite de Lua nova em um campo poeirento. Nenhum sinal do anel. Teve a sensação de que havia insetos ou talvez um rato com ela. Queria retornar, mas sua cintura estava inchada e dificultava o movimento. Começou a chorar, em vão.

Era noite e o jardim descansava em silêncio. Uma procissão de poucos integrantes seguia adiante, carregando lampiões. Pareciam medir o terreno, murmuravam cifras. De repente estava no pomar, e nem sinal deles. Uma chuva fina e gelada caía. Sob a meia-luz da Lua crescente, avistou uma árvore morta. Espalhadas no entorno, centenas de pétalas de rosa.

Boldo para curar os enjôos, é claro. Desde cedo aprendera a colher a erva no canteiro, mas não a preparar o chá. Uma borboleta monarca flutuava por ali. Era um dia nublado. As heras escalavam pelas grades de madeira da casa. Ouviu o som de cascos em marcha, cada vez mais nítido. Sentiu tontura e agarrou-se ao dossel, ofegante. No braço direito, marcas de mordidas abaixo do ombro. Sim, devia ter rato ali. Se fossem seus pais chegando numa carruagem, pediria um pedaço de torta de maçã, bem quente. Nunca negavam os desejos do seu apetite, não importava a receita.

Estava escuro de novo, exceto por algumas frestas das janelas. Devia ser Lua cheia. No quarto abafado tinha mais alguém. Mãos suadas pressionavam seu peito. O corpo não tinha mais forma, só um incômodo volume, e se movia contra a vontade dela. Lembrou, sem comoção, das montanhas que avistara tempos atrás. Estava acostumada a refazer o trajeto na mente, nas noites de embate. Ai, o rato. Eram as noites quando sonhava com uma luta entre ela e exércitos de cavaleiros, munida de um regador mágico causador de dilúvios.

A provação durou da alvorada ao anoitecer. Da dor nasceu o Sol, da tristeza nasceu a Lua. Vozes se alternavam ao seu redor. Em direções diferentes do quarto, às vezes ela enxergava a mão que vestia um anel. Finalmente acharam? Havia também muitas outras, mas elas só vestiam vermelho ou carregavam panos quentes. Viu descer do teto uma noite sem estrelas.

Os sonhos passaram a ser escassos. Dormia agora ao comando dos remédios que um cura trazia a cada lua. A casa tinha sons diferentes. Ou melhor, a casa voltara a ter sons. Nunca mais foi mordida pelo rato e, às vezes, de noite, tinha a impressão de ver uma senhora silenciosa espreitando pela porta entreaberta. 

Muito tempo correu assim, e nele Briar Rose lentamente recuperava as forças em sua cama, sem saber o significado do que lhe traziam os sentidos. Mas com o retorno da saúde, veio também a lucidez. Concluiu que o marido decididamente não a visitava mais e a senhora da casa era a sogra viúva. 

Através das janelas do quarto pouco se via. A vegetação envolveu a casa com ramos entrecruzados e folhagem hirsuta. O jardim não era mais que um terreno abandonado aos caprichos da flora e da fauna. Os vencedores ocuparam seus espaços e prosperaram.

Conforme a diminuição das dosagens que recebia, já sentia se apta a travar diálogos simples com as criadas – que eram totalmente desconhecidas. Com algum esforço descobriu que seus filhos eram um casal de gêmeos que já sabiam andar bem. Eram pálidos e retraídos. A velha sogra tratava-os com autoridade, como se fosse a mãe, e não os deixava saírem para o jardim, território que ninguém tinha interesse em cuidar.

Seus pais haviam falecido em um naufrágio, havia mais de um ano. Seu marido, com base na invalidez da esposa, fixara residência em uma região do outro lado do país, onde levava uma vida de excessos. A viúva havia criado interesse nas crianças e planejava fazer do menino um cavaleiro e da menina uma boa noiva, com o fim de seguir acumulando riquezas, influência e perpetuar a família.

Muitas informações de uma vez só, e algumas delas eram difíceis de processar. Durante muitos dias manteve-se ainda no quarto, sonhando ou observando as mudanças do céu através das folhas da janela aberta. Sentia que não tinha forças pra alterar os rumos da sua vida ou a dos seus filhos, que, aliás, eram proibidos de subir até o quarto dela.

Era noite e os grilos faziam por onde serem ouvidos em toda a região. Via a casa dormir sem qualquer incômodo. Andava por corredores estranhos com janelas e portas familiares. De uma destas saiu um cavalo marrom, ferido no pescoço, que avançava pelo corredor a plena carga.

Era dia e um vulto ligeiro oscilava entre as folhas da janela. O som de asas em movimento a fez temer que um grande inseto do jardim havia achado seu esconderijo. O bicho havia entrado no quarto, pousando na escrivaninha. Instantes após cessar de se mover, Briar Rose tomou coragem e espiou para fora das cobertas. Era uma andorinha que agonizava sobre seus livros empoeirados.

Era noite e o silêncio dos aposentos intimidava. Movimentação livre só era possível graças à sutileza. Caçava figuras gravadas em metais variados. Aos poucos pilhava todos ao seu alcance, aproveitando as horas de calmaria. Um tesouro de pirata que era seu, para enterrar onde quisesse.

Cuidava do pássaro dia e noite, bem junto de si. Era a primeira amizade em muitos anos. Com ele discutia novos planos, uma promessa de liberdade. Logo, refeita e bem alimentada, a ave dava sinais de querer partir de volta para o céu aberto. 

As mãos de Briar Rose carregaram, com aquele antigo cuidado que nunca esquecera, o pássaro até o limiar da janela. Ele bicou a ponta dos dedos da mulher, mas essa dor não era incômoda, de forma alguma. A fez com que se sentisse viva. Sussurou “adeus, meu príncipe” e contemplou a ave ascender ao nível das árvores distantes, onde sumiu.

Era noite de Lua nova e as luzes da casa, à distância, ofereciam fraca resistência à escuridão. A altura da mata ultrapassava a cintura. Imaginava perigos ocultos no caminho, mas não tinha medo. Mesmo no caos do jardim abandonado, em poucos minutos os fachos de luz já incidiam sobre o belo arbusto de oleandro, que crescera muito mais do que a jardinagem de outrora permitia. Suas flores rosa-claro, reveladas assim em segredo, pareciam a imagem da inocência. Briar Rose sorriu. Era alegria, enfim, o que ela trazia consigo além das muitas folhas colhidas do arbusto, enquanto regressava à casa. Duas mariposas tentavam entrar também, através das janelas, sem chance de sucesso.

Nunca havia tido a oportunidade de trabalhar um pouco na cozinha, mas quando os outros dormiam o espaço era só dela. Sem pressa, logrou preparar seu chá, que depositou num copo de prata.

Reuniu coragem para adentrar lentamente no quarto da velha senhora. Um ronco baixinho incentivou um progresso mais célere até o lado da cama. Com muito cuidado, tapou o nariz da viúva para que ela abrisse a boca, e então derramou um pouco da infusão de folhas de oleandro, que já havia esfriado. Correu com passos leves para se esconder atrás das cortinas enquanto a velha tossia, espantada com o amargor, e tomava um copo d’água que esperava numa mesinha. A senhora da casa fez menção de chamar alguém ou levantar-se da cama. Mas voltou a dormir depois de alguns minutos, pois tudo parecia em ordem e era normal acordar sobressaltada de vez em quando. 

Deitada em seu quarto, Briar Rose não conseguia dormir. Viu o céu se iluminar de laranja antes de vestir o uniforme azul. Quase na hora do almoço, veio a notícia de que morrera a matriarca. 

Desorientadas, as criadas pediram orientações à nova senhora do lar. Sem qualquer preocupação com o destino da defunta ou da casa, as ordens foram a de que arrumassem uma mala de roupas para cada criança e mandassem chamar uma carruagem.

Reuniu algumas vestimentas, dobradas com cuidado, ao espólio das suas expedições noturnas, dentro da mesma bagagem.

Então, quando o Sol descia para que o mundo dormisse, partiu com seus filhos para muito, muito longe. Onde viveu.


(reconte um conto de fadas)